Desde o ventre materno a criança é uma pequena semente em formação, sem casca protetora e sujeita a machucaduras profundas que a marcam para sempre.
Os gritos que ouve dos pais, a dúvida de abortá-la ou não, o desejo dos pais que ele seja um homem quando é uma mulher ou que seja uma mulher quando é um homem...tudo isso pode constituir uma marca profunda e dolorosa que não será apagada jamais, a não ser pela cura divina. A ciência pode ajudar o adulto machucado a descortinar seu trauma, mas a cura, só em Deus. Quanto menor a criança, maior sua dor, mais profundo o trauma.
Algumas machucaduras são tão dolorosas que ficam lá no profundo da alma, escondidas, "esquecidas", entretanto fazendo muitos estragos na saúde física, psíquica e espiritual do homem, às vezes levando-o a morte. Uma dessas dores é aquela impingida pelo abuso de um grande sobre um pequeno.
O grande já passou pelos diversos estágios de desenvolvimento, sendo que o pequeno ainda nem sabe, nem conhece seu próprio corpo. O pequeno não possui suas células amadurecidas, as informações de mundo são as que estão lhe sendo passadas pelo mundo adulto. Mas ao sofrer abusos, ainda que pense ser um carinho, um ato de amor, a criança sabe que não é por aí que as coisas devem caminhar; ela sente vergonha e sente culpa do que sentiu, pois foi descortinada sua nudez; tanto que nada conta das carícias que recebeu por parte do adulto aos coleguinhas e nem a ninguém.
Confunde-se por ter seduzido o adulto, traído a mãe/o pai tomando seu lugar junto a ela/ele.
O conflito é tão profundo, que em sua inocência, em seu compreender raso e pouco amplo, o silêncio se torna relato não verbalizado - por isso a necessidade dos pais atentar ao silêncio da criança.
Entretanto, ainda que a criança fale, o adulto não consegue elaborar, pois a dor é grande diante desse grito inocente e lhe falta a coragem. Daí muitas mães serem inimigas de sua filha, competidoras acirradas dela, daí mães a culpar sua filha, seu filho - num saber sem saber consciente.
E a criança, a pequena sente,sofre, calada, envergonhada, difamada perante ela mesma. Vai crescendo numa busca desenfreada de carinho, confundindo carinho com carícias; se "satisfazendo" com carícias feitas de quaisquer modos, mesmo sem sentido. A criança que guarda tudo dentro de si não consegue crescer, não consegue se deixar amadurecer, pois está atrelada, fixada naquele momento das carícias recebidas naquela fase infantil. Ela deseja "o colo", mas "aquele colo" que conheceu, no qual confiou, e nessa busca desse colo, senta-se em qualquer colo, seduz, se dá sem entrega.
A pedofilia sempre existiu, de uma forma velada. Foi esse "véu", esse "segredo" sabido e não falado, esse encobrir a pedofilia que fez desembocar sujeitos descaracterizados lutando para agir e serem aceitos como "normais'; seu sofrimento é tão profundo, tão inútil gritar sua dor, que ele termina acostumando-se a ela, deixando de lutar e entregando-se àquele movimento que lhe foi imposto pelo abusador, pelo pedófilo, pelo desajustado. E dessa forma o pecado entra na linha familiar do sujeito, ele passando a se entregar prazerosamente aos desejos pedófilos que ele conheceu, sem a mínima chance de questionar a validade de seu ato.
Isto é fruto de uma responsabilidade dele-abusador, minha, sua, do pai ou mãe que não teve condições internas de elaborar tamanha dor no filho/a e portanto não o pôde escutar e transformou o ato em "segredo".
Uma das fatias de possibilidade que ocorre diante da criança abusada, é por exemplo a mãe voltar-se contra a filha, rechaçá-la, distanciar-se dela. Já a filha, precisa fazer as vontades maternas, submeter-se à mãe, pois ela-filha pecou, seja por sua beleza ou roupas ou quaisquer outros pontos culposos em si que seduziram o abusador; e num mudo pedido de perdão ela deve manter-se calada, uma vez que a lealdade com seu pai-abusador ou outro próximo-abusador é profunda.
Por outro lado, o pai-abusador vem com a palavra profética:"criança sempre esquece, né filha?"...
Não!criança sempre se lembra - criança sempre se lembra na alma, no corpo, na impossibilidade de entregar-se, no desinteresse sexual, na frigidez, nas somatizações do corpo amadurecido aprisionado e prisioneiro da criança que lembra sempre.
Um é o que deixa o pecado entrar em sua linha de família; outro é a criança que tem que arcar com o peso extremo de ter que ver a si mesma em sua prisão, reconhecer e ter todas as suas proteções ruídas, esmerilhadas e ainda esforçar-se por sair dela e buscar sua própria cura e reconstrução perdoando.
E ainda querem convencer-se a si mesmos que esse vício hediondo é normal??
A criança sempre lembra, sempre!
Anacris Aquino
Seja bem vindo! FAMILIA, base da formação do ser humano constituída por homens e mulheres a serviço do Amor; quanto melhor pessoas formos, estaremos participando na formação de seres humanos equilibrados, felizes! Norteando-nos pelo AMOR, nos respeitamos e nos aceitamos da forma com que podemos ser e assim temos sentido de vida. Construiremos FAMILIAS saudáveis onde o equilíbrio se faz presente e a construção de uma sociedade justa se torna possível. Participe comigo!Opine! Anacris Aquino
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