domingo, 10 de março de 2013

A Influência dos Antepassados









Lembrando sempre que estamos trabalhando com fatias de possibilidades.Nossa vida está repleta de histórias. Sabemos de histórias de nossos pais, avós, trisavós, tataravós...quando estudamos, conhecemos outras histórias daqueles que ajudaram a escrever a história de nosso país e/ou de outros países. E percebemos que as histórias dos outros países influenciam nas nossas histórias e vice-versa.
Vamos nos ater às histórias familiares: nossos antepassados nos influenciam hoje? já pensaram de que forma isso ocorre? tenhamos em mente algumas de nossas necessidades principais: ordem; pertencimento; equilíbrio entre o dar e o receber.
Falemos sobre a ORDEM:
NECESSITO SABER QUAL A ORDEM DE MEU NASCIMENTO, se sou o 1º filho, o 2ºou o caçula. Necessito saber a fim de cumprir livremente a minha função neste mundo. Função de ser mulher ou homem, de ser filha, esposa, mãe, enfim, ser segundo as capacidades com que fui dotada.
Se houve um filho antes de mim, natimorto, um aborto (provocado ou não), se  falecido  algum tempo após seu nascimento, então eu sou o 2º filho, não o 1º. E isso é importantíssimo eu saber para ocupar minha posição de 2º filho.
Como montanha em seu lugar de fato, nela brotarão árvores onde os pássaros e os homens terão abrigo, comida, aconchego, beleza; rios passarão por ela e ela poderá ser proteção contra ventos e tempestades. Mas se ela vai para dentro do mar, tais funções não ocorrerão.
E assim ocorre com o meu lugar de filho: sem saber que tive um irmão, abortado ou não antes de mim, passo a ocupar o lugar dele, vai acontecer comigo igual a montanha que foi para o fundo do mar; ou seja, não produzirei com facilidade, vou sempre me sentir ocupando um lugar que não é meu e isso me fará mal pois se estou no lugar de outro, não possuo firmeza, liberdade; eu me sinto no ar e isso me dá insegurança; então não fluo com desenvoltura, cada passo é amarrado, difícil, impreciso.
Sobre o PERTENCIMENTO:
NECESSITO  ME SENTIR PERTENÇO. Pertenço a um grupo social, seja ele familiar, religioso, político, racial ou outro. Eu preciso me sentir pertenço e desta forma, reconhecido. Se meu grupo familiar é formado por pessoas cultas, estudiosas, mais chances tenho de me direcionar à cultura, ao saber, pois minha herança familiar é a cultura. Se porventura rompo com este grupo ou sou excluída dele, não me sentirei incluído, pertenço a ele – o que é um preço muito alto a ser pago; é romper as barreiras e ser comigo somente. E ser só comigo quando nem me sinto pertença, quando ainda estou para descobrir o meu lugar...é algo que não existe. Quando não me sinto pertenço, então de qual lugar eu vou produzir, eu vou brilhar? Serei como uma luzinha que voa à mercê do vento e com o sopro da tristeza, pode se apagar.
Sobre o EQUILÍBRIO ENTRE O DAR E O RECEBER:
Somos seres faltantes, necessitamos das trocas mútuas, ou seja: dar e receber – na mesma proporção.
Ater-se ao pensamento ou comportar-se como se não precisasse de retribuições é esvaziar-se, distanciar-se de si mesmo, até cair no buraco = depressão.Quando só aceito dar, é como se eu cavasse um grande buraco dentro de mim, acreditando que não preciso colocar nada dentro dele – é como se eu me bastasse – e isso parece falar de orgulho e solidão.
De outra forma, posso ser aquele “amigo” que dá carona para todos e não aceita que paguem o combustível, nem dividam as despesas. Vou me posicionar com “mais segurança” achando que não preciso nada dos outros ou não preciso que o outro retribua o que lhe fiz. Aqui entra a confusão onde muitos pensam que “dar sem pensar em receber” é simplesmente não aceitar nenhum tipo de doação do outro para si. Ocorre que dar pensando no receber é uma troca, ao passo que dar e aceitar receber é saúde, equilíbrio para ambas as partes quando ocorre a dinâmica entre aquele que dá e aquele que recebe.
Quando marido e mulher se relacionam, a beleza deste relacionamento está na reciprocidade do dar e do receber. Desde a confiança conjugal, “onde eu me faço humilde e frágil ao abrir-me ao outro até o ápice do prazer e recebo o outro humilde e frágil abrindo-se a mim ao ápice do prazer” (Bert Hellinger). E respeito e sou respeitado.
Basicamente via estas três necessidades (ordem, pertencimento e equilíbrio) fui influenciado por meus antepassados e influenciarei minhas gerações vindouras.
Cada ser humano possui sua própria identidade digital, e ninguém pode tomar isso dele. Da mesma forma, seja como 1º filho ou como filho caçula, cada um possui o SEU lugar – isso é DIREITO do ser humano. E se dentro de minha família eu sou o 2ºfilho, então não sou o 1º, mesmo que ele tenha falecido.
E se sou filho, eu não sou pai, também não sou mãe, sou simplesmente filho. 
Na família, o pai deve ocupar seu lugar de pai, à direita da esposa; a mãe ocupar seu lugar de mãe, à esquerda do marido e no mesmo patamar dele, nem acima e nem abaixo e ambos falando a mesma linguagem. Os filhos ocupam um lugar abaixo de seus pais, numa ordem hierárquica. Este é o modelo familiar.
A palavra paterna é semelhante à palavra materna (e vice-versa) dada ao filho e o filho a obedece naturalmente, sem dúvidas.
Caso haja discordância entre o casal quanto à palavra dada ao filho, será conversado somente quando o casal estiver a sós, mas na frente do filho, a 1ª palavra dada será mantida pelo casal. Isto porque se a mãe e o pai brigam na frente do filho, ele notará a divisão entre seus amados e poderá sentir-se culpado por “causar” tal divisão. Então poderá carregar por muito tempo um peso que não é seu.
De outra forma, se a mãe diz “sim” e o pai diz “não” na frente do filho, essa fala dupla poderá gerar uma grande confusão em sua cabeça, levando-o a desorientação, a um não saber qual lado escutar. Essa fala dupla pode acarretar sérios danos à saúde mental do filho.
Quando na família a filha ocupa o lugar da mãe, seu pai a enxerga, mas não enxerga sua esposa. Ou seu pai pode rechaçá-la, pois se parece com a esposa, seja no modo de agir ou na aparência. O filho também pode ocupar o lugar do pai em casa. Alguém já viu acontecer dos pais saírem e o filho falar para os irmãos: ”agora quem manda aqui sou eu, todos têm que me obedecer”
Há filhos, homens ou mulheres, que carregam um grande peso vida afora, pois carregam o peso de seu pai ou sua mãe. Se o filho não aprendeu a ser filho, ocupou o lugar de seu pai, ele aprendeu por exemplo que pode ocupar o lugar de seu pai, mas não pode manter relações sexuais com sua mãe. Esta é um a mensagem dupla: ajo como meu pai, mas sou filho de minha mãe. “Ocupar” essa falta de lugar, esse lugar que não é o seu, foi ensinado por seu pai, que estava em outro lugar, deixando seu lugar de pai vazio. Pode trazer ao filho dificuldades em sua vida conjugal por exemplo.
De outra forma, uma criança pode amar, ser leal a um antepassado e copiar-lhe o comportamento, mesmo sem te-lo conhecido pessoalmente: ”Um trisavô teve seus bens roubados pelo irmão e não os reaviu e nem o perdoou. O sentimento de injustiça e raiva desse trisavô foi profundo, a ponto de suas gerações vindouras reinvindicarem justiça, as brigas entre irmãos serem frequentes e a pauta dessas gerações ser a culpa!” 
O que não é resolvido numa geração, uma dívida que não foi paga, seja ela do tipo que for, é passada a outra, até que ela seja paga ou perdoada.
Na medida em que nos responsabilizamos, temos condições de dar aos nossos descendentes um viver digno e feliz.
 
Anacris Aquino

2 comentários:

  1. Bom dia Ana Cristina! Gostei muito do seu blog! Conheço a Terapia Familiar Sistêmica, pois já consegui resolver algumas pendências com os meus antepassados. Atualmente, meu casamento está em crise. Meu marido não aceita o fato dos antepassados influenciarem sua vida hoje e acha que eu estou "mexendo" onde não deveria ao realizar as sistêmicas. Você tem alguma ideia para compartilhar comigo sobre essa negação dele ao passado? Se puder me ajudar, agradeço! Abraço! Karina

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  2. Olá Karina, boa noite!
    Sinto- me agradecida por sua partilha. Que bom você conhecer a Sistêmica, cuja dinâmica fala de uma abertura, de complementaridade, algo muito além do olhar linear. Tudo constitui numa complementação, nada é estático, mesmo porque o ser humano é uma fonte inesgotável de ser, cuja água é sempre nova, jamais se repete.
    O ser humano recebe em sua formação, idéias de seus pais, que por sua vez as receberam de seus avós, que receberam de seus bisavós e assim por diante. Além disso, outras informações também fazem parte de sua formação, como as que recebe na escola, no grupo que frequenta, amigos, Igreja, etc.
    Algumas informações que nos foram passadas são informações que hoje se sabe, não têm fundamento, p.ex, "comer manga com leite mata".
    Diante disso, assim como esse tipo de influência/crença nos foram passadas e podemos passa -las aos nossos descendentes, que são nossos filhos, algumas crenças quanto a determinados comportamentos podem nos ter sido passadas por nossos antepassados, que são desde nossos pais falecidos, avós, bisas,etc e temos que muda-las, extingui- las de nosso meio, como por ex: " o pai não pode dar carinho ao filho senão perde a autoridade diante dele"; ou " o marido manda em casa" (e não caminha ao lado da esposa, respeitando e sendo respeitado por ela).
    Espero que tenha ajudado a entender melhor do que a Sistêmica fala; ela não "mexe" com mortos (antepassados) mas os respeita e honra; ela trabalha no auxílio da soltura daquilo que nos foi ensinado por verbalizações ou exemplos e nem sempre é construtivo, daquilo que muitas vezes atrapalha e impede o relacionamento do casal e/ou do sujeito, levando- os ao afastamento e até separações desnecessárias.
    Espero ter esclarecido, sinta-se livre para novas questões.
    Quanto à crise em seu casamento, vocês buscaram terapia, orientação profissional?não deixem que diferenças no modo de pensar ou comunicação truncada os desunam ou impeçam seu amor, vale lutar por ele!
    Abç,

    Ana Cristina Aquino

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